terça-feira, 18 de novembro de 2014

REFÉNS DO MEDO

      Hoje a violência bate à nossa porta, entra sem pedir licença, nos humilha, leva o fruto do suado trabalho e vai embora com cara de deboche deixando simplesmente o medo e a percepção de impotência.

      Cada vez mais somos reféns do medo, sendo obrigados a nos trancafiar dentro de nossas casas, onde deveria ser um porto seguro.

    Em mais um caso de violência absurda, bandidos entraram na casa amigos, aterrorizaram os filhos do casal, tentaram abusar sexualmente da secretária, danificaram bens e levaram vários pertences.


      A polícia foi acionada e imediatamente entrou em cena. Após perseguição prendeu dois e na troca de tiros o terceiro “tombou” (no jargão policial, morreu). Os bens foram recuperados, o que não aconteceu com a tranquilidade e com a paz daquela família.


       Inadvertidamente fiquei contente com a morte do bandido. Pensei “é um a menos”. Antes mesmo que pudesse me punir com o pensamento anticristão, percebi que várias pessoas à minha volta compartilharam e expuseram satisfatoriamente o mesmo pensamento. Uma inversão de valores onde a vida do próximo deixa de ser mais importante que o bem estar e harmonia da maioria.

      Pra enfrentar esse caos, muitos têm transformado suas casas em verdadeiras fortalezas, com segurança armada, sistema de monitoramento, cães raivoso e por vezes até armas de fogo adquiridas legal ou ilegalmente. Outros que podem, simplesmente “desistem” do Brasil e procuram guarida em um país que ofereça condições de se viver em paz.

      A transformação, utópica ou não desse cenário trágico decorrerá de uma mudança conjuntural radical que não sucederá em poucos anos, e envolverá necessariamente uma melhoria da educação, melhor distribuição de renda, aumento do quantitativo de policiais e valorização da polícia, mudança no ordenamento jurídico e prisional, combate efetivo e punição aos corruptos e o principal, e o tolhimento em nós mesmos do “jeitinho brasileiro”, que nada mais é que uma erva daninha que cresce e se expande de modo incontrolável.

      Enquanto isso não ocorre, devemos procurar meios de enfrentar a violência, redobrando os cuidados em nossas casas, no trânsito, denunciando, protestando e exigindo que o alcance do braço do Poder Público seja mais extenso que o do crime organizado. A sociedade pede socorro.

      O que não é cabível é cedermos ao medo, que reduz a qualidade de vida, provoca distúrbios psicológicos e doenças. Precisamos retomar o controle da situação. Em momento de crise as pessoas cometem as mais terríveis atrocidades expondo o lado mais sombrio do ser humano. Isso é inaceitável.


Editorial publicado no Jornal do Tocantins em 16/11/2014 


terça-feira, 2 de setembro de 2014

A DES(INTELIGÊNCIA) EMOCIONAL NO NOSSO COTIDIANO

Uma jovem de 22 anos se tornou um dos rostos mais conhecidos do Brasil quando foi filmada na arquibancada, no jogo entre Grêmio e Santos em Porto Alegre, esbravejando contra o goleiro Aranha o grito silábico de MA-CA-CO.


Pela infelicidade de ter sido filmada no momento exato da ofensa, Patrícia Moreira foi rechaçada com veemência, virtual e pessoalmente, tendo tido inclusive sua casa apedrejada pelos mais raivosos. O ato racista representou afronta não somente ao goleiro santista, mas a um país continental de origem e predominância negra.

A jovem se diz arrependida e quer pedir desculpas ao goleiro pela ofensa desferida. Disse que foi levada pela emoção e pelo calor do jogo. Entendo possível o contexto da emoção, e é sobre esse ponto o presente texto, abstraindo-se a questão do racismo.

Lidar com emoções é algo complexo e envolve uma série de fatores determinantes para que a sua expressão seja apresentada de forma menos ou mais intensa. Esse conjunto de fatores implicará na (des)inteligência emocional.

No mundo moderno as pessoas vivem preocupadas e estressadas pelos mais variados motivos, e por vezes explodem com estranhos ou pessoas próximas por meras banalidades. Se enraivecer e reclamar é inerente ao homem, contudo, a forma de externar seu descontentamento e sua ira determinará se as consequências serão construtivas ou danosas.

Em um contexto amplo, veem-se pessoas tendo ataques de ira no trânsito culminando com agressões e mortes, linchamento de delinquentes por populares nas ruas, depredação do patrimônio alheio em manifestações, violência física e verbal em estádios de futebol.


Em um âmbito mais pessoal, a intensidade e o contexto de uma exposição emocional feita de forma desproporcional e excessiva podem implicar em cicatrizes irremediáveis, términos de relacionamentos, afastamentos e perdões insatisfatórios para o prosseguimento da convivência outrora feliz.


A inteligência emocional está relacionada a habilidades de ser resiliente às frustrações, controlar impulsos, direcionar as emoções para o contexto apropriado, raciocinar, planejar, resolver problemas, abstrair, compreender ideias, motivar pessoas, etc.

É óbvia a impossibilidade de esgotar o assunto, sendo apenas um sucinto apontamento do que se trata. Deste modo, torna-se importante que se busque o autoconhecimento e se perceba a existência de desequilíbrios além da conta, inclusive através de acompanhamento com especialistas, de forma a evitar descontroles emocionais com consequências não somente autodestrutivas, mas feridas nas pessoas à volta que podem nunca cicatrizar.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A SELEÇÃO BRASILEIRA ESTÁ FORA DA COPA DO MUNDO, E DAÍ?

A grande maioria dos brasileiros ainda está estupefata com a acachapante derrota sofrida pela seleção brasileira frente à duríssima e consistente seleção alemã, por 7 a 1, na fase semifinal da Copa do Mundo do Brasil.

Foi um desastre. Uma das maiores decepções já vistas na história do futebol. O pior resultado de uma seleção do Brasil em todas as copas do mundo. O time agiu como um anfitrião desleixado, que se deixou ser esbofeteado várias vezes na cara dentro de sua própria casa por um visitante indesejado.

Além de sermos obrigados a ler e ouvir inacabáveis matérias sobre o fatídico episódio temos que engolir ainda as piadas e gozações feitas não somente pelos estrangeiros, mas em sua grande parte pelos próprios brasileiros.

Milhões de torcedores estavam esperançosos com time do Brasil, mesmo cientes da inconsistência e fragilidade do nosso futebol, cenário recorrente há vários anos. Por mais otimistas que fôssemos, lá no íntimo, havia a incerteza, sobretudo diante das bem armadas seleções que vieram disputar o mundial. Esquemas táticos modernos e eficientes, especialmente o modelo apresentado pelas duas seleções europeias que chegaram às semifinais.

O baque da saída indesejada e repentina do Neymar e do capitão Tiago Silva ressonou entre os demais jogadores e equipe técnica, que estavam totalmente perdidos em um esquema tático aparentemente inexistente. “Foi uma pane geral”, como disse o futuro ex-técnico Scolari.

O fato é que o futebol era uma das poucas razões que tínhamos para dizer que éramos os melhores. Nossa seleção não é mais imbatível. Os campeonatos regionais estão cada vez mais desinteressantes. Os grandes astros jogam no exterior. O futebol europeu é mais atrativo e espetacular que o nosso.

Enfim, estamos sedentos por acontecimentos que nos encham de orgulho, em qualquer área que seja. Na política, não festejamos por boas ações realizadas por algum político, mas sim quando é dada sentença condenatória em desfavor de algum mensaleiro. No esporte, não temos mais um Ayrton Sena na fórmula 1, Anderson Silva não é mais o melhor, Cesar Cielo não é mais o primeiro, e por aí vai.

A Educação no país é muito aquém dos níveis recomendáveis. A Saúde não atende a todos. Vivemos em clima medo e de Insegurança constante. Não confiamos em nossos governantes. Pagamos impostos elevadíssimos e não temos o retorno disso. Enfim, é muita coisa que parece estar desencaixada.

Mesmo assim, somos apaixonados por esta terra, pois daqui não saímos. Apesar de todos os pesares, somos um povo cheio de esperança, que apesar de ainda magoado e machucado, acredita em um futuro melhor. Gente patriota que chora com o hino nacional cantado à capela, que se aborrece com uma goleada sofrida em plena Copa do Mundo e que não aceita de bom grado ser zombado por qualquer outro time, pois somos os únicos pentacampeões.

Somos um país com uma diversidade cultural imensurável, do melhor Carnaval, de belezas naturais únicas e que abriga o pulmão do mundo. Em breve respiraremos novos ares que nos permitirão retomar o gás, sacudir a poeira e seguir em frente. Como diz o ditado, somos brasileiros e não desistimos nunca.

Se mesmo assim alguém quiser desistir daqui, há muitas opções além das nossas fronteiras. E como um anfitrião mais atento diria, a porta da rua é a serventia da casa.