quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Inesperado e inesquecível


Era segunda-feira de Carnaval.
Nosso show principal estava marcado para a noite, mas, no domingo, fechamos com nosso contratante um show extra à tarde, ou seja, seriam dois shows no dia.
O local do show vespertino seria em frente ao conhecido Hotel Veneza, em Gurupi, onde milhares de pessoas se reúnem tradicionalmente à tarde, todos os anos, nos dias de Carnaval, para se divertirem , namorarem, beberem todas, e obviamente dançar muito. A música sempre ficou a cargo de vários carros, lado a lado, com infindáveis cornetas, tweets e graves, que produzem som absurdamente alto e por vezes inaudível ante a mistura de sons emanados dos automóveis que competem entre si. Isso não importa. O que vale é a festa.
Passar o som seria um desafio difícil em meio àqueles vários carros com aparelhagens potentes. Por mais que estivéssemos em cima de um grande trio elétrico com estrutura sonora imponente, o ruído dos veículos era impressionante.
Primeira etapa vencida. O som estava passado graças à mesa digital que levávamos conosco.
Do alto do trio elétrico, o apresentador do evento conseguiu convencer os donos dos automóveis a desligarem seus aparelhos de som. Obviamente alguns não gostaram da ideia, mas atenderam aos pedidos insistentes do apresentador.
Estabelecido o silêncio, iniciamos nosso show.
Pouco a pouco as pessoas foram se envolvendo com música, e logo já dançavam, coreografavam e curtiam, como sempre fazem nos shows da Balagandaya. Estava tudo muito lindo. Homens e mulheres sorriam. O ambiente era festivo. Todos cantavam nossas músicas. Olhavam para cima do trio de onde tocávamos e interagiam conosco. 
Eis que naquele momento, uma camionete levantou sua carroceria, e como um robô do futuro dos filmes de ficção científica, apresentou suas “armas”. Era uma estrutura imensa, com uma assustadora aparelhagem de som. O carro encostou ao lado e desafiou não somente o trio elétrico e a banda que tocava, mas aquelas milhares de pessoas que estavam assistindo ao show. Imediatamente paramos de tocar. Era impossível continuar.
Sem exitar, o público começou a vaiar, censurar, até mesmo fazer sinais obscenos aos ocupantes daquela camionete. O coro da reprovação foi ensurdecedor.
Naquele instante, o Markim, vocalista da banda, tomado pela reação da plateia, do alto do trio elétrico esbravejou em direção ao veículo:
- Aqui não, meu amigo! Aqui você tem que ter respeito! Aqui você precisar respeitar a tudo e a todos que estamos fazendo essa festa. Aqui não!
O público gritou mais alto, aplaudiu com energia, e alguns como eu, se emocionaram. Não esperávamos aquela reação dos expectadores, que nos blindou com um carinho e respeito que nunca esqueceremos.
Voltamos a tocar com uma música do Jorge Ben que refletia como nenhuma outra aquela cena:
“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Em fevereiro, em fevereiro tem carnaval (...)”.
O som da camionete se calou. Nossa música voltou. O público vibrou e cantou com a gente. E eu, emocionado, como ainda estou no momento em que escrevo este texto, não contive as lágrimas.
Foi o momento mais bonito e emocionante do Carnaval.