segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

QUE PAÍS É ESSE?

Não sei se ocorre com todo mundo, mas comigo, ouvir a música “Que país é esse?”, de autoria de Renato Russo, sempre me causa uma aflição e desânimo. Isso porque quando chega o refrão “Que país é esse?”, o público, em uníssono responde em alto e bom som: “É A PORRA DO BRASIL”. 

Ontem, vendo um compacto do Festival de Verão de Salvador, peguei um pedaço do show do Capital Inicial, justamente na música. Mais de 35 mil pessoas cantando a bendita música-aflição. Na hora do refrão, o povo se regozijava e esbravejava o sonoro “É A PORRA DO BRASIL”. O vocalista, já acostumado com a resposta, direcionava o microfone para a imensa platéia, e feliz da vida, sorria satisfeito com o êxito da famigerada pergunta.

Parei pra pensar qual seria o sentimento das milhares de pessoas ali e, em minha rasa investida anti-patriótica, cheguei a somente duas respostas: ou as pessoas cantam por cantar sem raciocinar o que estão falando ou sabem o que estão cantando, pois a música representa um sentimento de revolta e desprezo.

Não ouso ir contra a correnteza e afirmar que as coisas por aqui são mil maravilhas, pois definitivamente não são. Mas falar que o Brasil é uma “porra” só potencializa o aspecto negativo das coisas. Corrupção, violência, roubalheira, omissão do poder pública, miséria, fome e várias outras coisas ruins que ocorrem por aqui.

Mas é aí, adianta alguma coisa entrar na vibe e dizer que o Brasil é uma porra? Quero ver quem tem feito algo pra fazer a diferença. A maioria só reclama e não age. E por mais que tente negar, ajuda a construir uma sociedade mais injusta e acima de tudo hipócrita. 

Quem responde “É A PORRA DO BRASIL” é, em imensa maioria, aquele que mal sabe cantar o Hino Nacional, que desconhece o refrão do Hino à Bandeira, que gosta do jeitinho brasileiro de furar fila, de querer ligar para um amigo policial pra quebrar a multa de trânsito, de vender o voto, de não devolver o troco que veio a mais, de querer trabalhar sempre menos e ganhar cada vez mais, de buscar um atestado médico para justificar uma falta injustificável no trabalho, que se investe no papel de politicamente correto, mas é preconceituoso e racista, e várias outras situações em que a Lei de Gerson é um privilégio a ser exercido.

O Brasil é um país de valores éticos e morais muitas vezes questionáveis. Mas somos um povo do bem, que deseja prosperar, que se une na tragédia para ajudar quem perdeu tudo, que detesta a violência, que elege um palhaço em sinal de protesto, que escolheu o Coronel Nascimento (do filme Tropa de Elite) seu herói nacional e um exemplo a ser seguido e que numa festa adora cantar “EU SOU BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR”!

O patriotismo deveria estar presente não somente nos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo, de quatro em quatro anos. Deve ser a cada instante, não somente por palavras, principalmente por ações. 

Há de chegar o dia que não ficarei mais aflito nem desanimado ao ouvir a música “Que país é esse?”. Ao contrário, ficarei satisfeito em cantá-la, fazendo as críticas necessárias, mas sabendo que “Todos acreditam no futuro da nação”. E que na hora em que chegar o refrão “Que país é esse?” as pessoas responderão “É O MEU LINDO BRASIL”. 

Pode tentar. Dá certo!