Hoje a violência bate à nossa porta, entra sem pedir licença, nos
humilha, leva o fruto do suado trabalho e vai embora com cara de deboche
deixando simplesmente o medo e a percepção de impotência.
Cada vez mais somos reféns do medo, sendo obrigados a nos trancafiar dentro de
nossas casas, onde deveria ser um porto seguro.
Em mais
um caso de violência absurda, bandidos entraram na casa amigos, aterrorizaram
os filhos do casal, tentaram abusar sexualmente da secretária, danificaram bens
e levaram vários pertences.
A
polícia foi acionada e imediatamente entrou em cena. Após perseguição prendeu
dois e na troca de tiros o terceiro “tombou” (no jargão policial, morreu). Os
bens foram recuperados, o que não aconteceu com a tranquilidade e com a paz
daquela família.
Inadvertidamente fiquei contente com a morte do bandido. Pensei “é um a menos”.
Antes mesmo que pudesse me punir com o pensamento anticristão, percebi que
várias pessoas à minha volta compartilharam e expuseram satisfatoriamente o
mesmo pensamento. Uma inversão de valores onde a vida do próximo deixa de ser
mais importante que o bem estar e harmonia da maioria.
Pra enfrentar esse caos, muitos têm transformado suas casas em verdadeiras
fortalezas, com segurança armada, sistema de monitoramento, cães raivoso e por
vezes até armas de fogo adquiridas legal ou ilegalmente. Outros que podem,
simplesmente “desistem” do Brasil e procuram guarida em um país que ofereça condições
de se viver em paz.
A
transformação, utópica ou não desse cenário trágico decorrerá de uma mudança
conjuntural radical que não sucederá em poucos anos, e envolverá
necessariamente uma melhoria da educação, melhor distribuição de renda, aumento
do quantitativo de policiais e valorização da polícia, mudança no ordenamento
jurídico e prisional, combate efetivo e punição aos corruptos e o principal, e
o tolhimento em nós mesmos do “jeitinho brasileiro”, que nada mais é que uma
erva daninha que cresce e se expande de modo incontrolável.
Enquanto isso não ocorre, devemos procurar meios de enfrentar a violência,
redobrando os cuidados em nossas casas, no trânsito, denunciando, protestando e
exigindo que o alcance do braço do Poder Público seja mais extenso que o do
crime organizado. A sociedade pede socorro.
O
que não é cabível é cedermos ao medo, que reduz a qualidade de vida, provoca
distúrbios psicológicos e doenças. Precisamos retomar o controle da situação.
Em momento de crise as pessoas cometem as mais terríveis atrocidades expondo o
lado mais sombrio do ser humano. Isso é inaceitável.
Editorial publicado no
Jornal do Tocantins em 16/11/2014