sábado, 23 de abril de 2011

FURA-OLHO


 Em qualquer relação entre pessoas que se preze é baseada em confiança. Sem ela não existe uma conexão verdadeira.

Em uma relação de emprego, por exemplo, o patrão somente permitirá que determinado empregado cuide de seu caixa, após receber provas de que se trata de uma pessoa confiável. Uma mãe somente deixará seu filho pequeno nas mãos de uma babá que tenha se mostrado capaz. A união de um casal que convive à distância é condicionada à confiança mútua. Uma relação de amizade é construída e sedimentada na medida em que os amigos têm cumplicidade para se confidenciarem.

Entretanto, a quebra da confiança é algo cada vez mais comum. O compromisso com a verdade nem sempre prevalece. Os valores morais e éticos estão cada vez mais pormenorizados ou preteridos.

Em decorrência da relativização da confiança, as uniões tem tido desfechos cada vez mais rápidos e enredos cada vez mais dolorosos.

O empregado abusa da confiança do seu chefe e “conclui” que R$ 50,00 a menos no caixa não farão mal algum. A babá não vê problema em atrasar uma “horinha” para dar a mamadeira ao neném enquanto o capítulo da novela não termina. A namorada não vê óbice em dar uma “saidinha” sem que seu namorado que mora longe saiba. O amigo pouco se importa em se envolver com a (ex) mulher do seu amigão de longa data.

Certamente o leitor deve estar balançando a cabeça afirmativamente a uma ou mais das situações descritas acima, por agir assim ou por conhecer alguém que aja ou tenha agido dessa forma. Exemplos de casos de quebra de confiança são infindáveis. E aos autores de condutas traiçoeiras assim, dá-se o nome de “fura-olho”.

Piadas para o “fura-olho” e até músicas para ele existem aos montes. Já ouvi gente falando que iria inventar óculos à prova de fura-olho. Existe até um gesto de defesa contra as investidas do hábil traidor em que se posiciona a mão aberta transversalmente entre os olhos.



Brincadeiras à parte, o fato é que quem é vítima de um fura-olho tem muita dificuldade para esquecer a mágoa decorrente da traição. Uma coisa é ser enganado por alguém que pouco se conhece ou por um desconhecido. Outra coisa é ser traído por pessoa em quem se depositou confiança.

Mentir ou omitir a verdade é um risco cujo preço a pagar pode ser muito alto. Além da sujeição ao próprio juízo da consciência existe a possibilidade de uma amargo arrependimento que pode massacrar por toda a vida.

Portanto, enfrentar a verdade, por mais dura que seja, é a melhor saída. Antes de querer “pegar” a(o) (ex)-namorada do(a) do (a) amigo(a), pense se realmente vale a pena, e acima de tudo, exponha a situação previamente a seu(sua) amigo(a) sob pena de perder a amizade e ser taxado de “fura-olho”.

Estabelecer um tácito ou expresso código de moral, ética e conduta é importante em uma união. Nas relações mais consistentes essa norma é intrínseca e não carece de “tanta” formalidade.

De qualquer forma, é bom pensar antes de agir. O arrependimento é doloroso e a consciência é implacável. 

Palmas, 23 de abril de 2011.

FURA-OLHO